Brasil 500 anos
Divisão de Bibliotecas e Documentação
PUC-Rio
 

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As Obras

ABREU, J. Capistrano de. O descobrimento do Brasil.     Annuario do Brasil,1929.

João Capistrano de Abreu nasceu na província do Ceará em 1853. Como muitos de seus contemporâneos do "Norte" do Império, ainda jovem dirigiu-se ao Recife, mas não conseguiria ingressar na tradicional Faculdade de Direito. Em 1875 chegaria à Corte imperial, onde por meio de um feixe de relações pessoais conseguiria engajar-se na atividade jornalística. Foi sobretudo como redator da Gazeta de Notícias que Capistrano de Abreu pode se dedicar ao exercício da crítica e à produção de textos de história da literatura, participando das polêmicas que distinguiam o ambiente intelectual do Rio de Janeiro. Nomeado por concurso para os quadros da Biblioteca Nacional, passou a exercer de modo mais sistemático e constante a pesquisa histórica, começando a dar forma e conteúdo à idéia que acalentava desde sua terra natal de escrever a história do Brasil "a grandes traços e largas malhas". Em 1883 troca a Biblioteca Nacional pelo Imperial Colégio de Pedro II, por meio de concurso que se tornaria famoso, assistido pelo próprio imperador Dom Pedro II. Sua tese intitulada "Descobrimento do Brasil. Seu desenvolvimento no século XVI" concluía terem sido os espanhóis os primeiros a chegar ao território brasileiro, mas que "sociologicamente falando, os descobridores do Brasil foram os portugueses. Neles inicia-se a nossa história; por eles se continua por séculos; a eles se devem principalmente os esforços que produziram uma nação moderna e civilizada em território antes povoado e percorrido por broncas tribos nômadas"

Por seis anos Capistrano lecionaria no estabelecimento modelar, demitindo-se da função que exercia por não estar de acordo com a reforma que anexava a história do Brasil à história universal. Desde então, dedicar-se-ia quase que exclusivamente à pesquisa e à escrita da história do Brasil. Publicados em 1907, os Capítulos de História Colonial consagrariam-no definitivamente como um dos principais historiadores brasileiros. Isto porque, conforme destaca Ricardo Benzaquen de Araújo, Capistrano é o historiador que talvez tenha melhor encarnado entre nós o ideal da busca "moderna" da verdade, assim como por ter sempre demonstrado um enorme interesse em relação aos trabalhos de sociólogos franceses e ingleses, como Taine, Comte, Buckle e Spencer, interesse que mais tarde irá se estender a autores ligados à antropologia e à geografia, principalmente de origem alemã, condição para a interpretação reveladora de um sentido que também deveria definir, a seu juízo, o fazer historiográfico. 

Em O descobrimento do Brasil – edição da Sociedade Capistrano de Abreu, de 1929 – aparecem reunidos dois trabalhos sobre o mesmo assunto, escritos em épocas distintas: a tese de concurso para o Colégio Pedro II, redigida em 1883; e "O Descobrimento do Brasil – Povoamento do Solo – Evolução Social", texto de abertura do primeiro volume do Livro do Centenário , 1500-1900, publicado dezessete anos depois. A leitura de ambos os textos possibilita muito mais do que simplesmente conhecer como o historiador cearense resolveu a maior parte dos denominados "pontos controversos" do Descobrimento do Brasil, por meio do exercício do "método crítico". O cotejo entre ambos possibilita, entre outras coisas, a compreensão das duas dimensões constitutivas do fazer historiográfico relacionado ao que se costuma denominar de concepção moderna de História – aquele método e a narrativa que encerra um sentido -, intensamente experimentada por Capistrano de Abreu.