|
GAFFAREL, Paul. Histoire du Brésil Français au Seizième Siècle. Paris: Maisonneuve et Libraires, 1878. No decorrer da segunda metade do século XIX, uma nova expansão européia sobre o globo, agora sob a égide do imperialismo, propiciaria entre outras coisas debates e polêmicas a respeito dos primeiros europeus a terem alcançado antigas e novas regiões coloniais. No que se refere à antiga colônia portuguesa na América, tais polêmicas e debates se apresentariam sob a forma da questão da "prioridade da Descoberta do Brasil", incentivadora da pesquisa documental e do exercício do método crítico. Ao lado das denominadas "pretensões espanholas" e "pretensões portuguesas" do Descobrimento apareciam as "pretensões francesas".
Editado em 1878, o livro do historiador francês Paul Gaffarel Histoire du Brésil Français au seizième siècle se apresenta como um dos principais argumentos das "pretensões francesas". Ali, Gaffarel defende que, levado por correntes marítimas, o navegador Jean Cousin teria aportado em terras brasileiras em 1488, antes da expedição cabralina e do próprio Cristóvão Colombo ter chegado à América. Para tanto, Gaffarel servia-se em parte do estudo de Desmarquets, Mémoires chronologiques pour servir à l’ Histoire de Dieppe et de la navigation française, publicado um século antes.
Ao historiador Capistrano de Abreu coube refutar também a "pretensão francesa" em sua tese de concurso à cadeira de História do Brasil do Imperial Colégio Pedro II, em 1883, a que deu o título de "Descobrimento do Brasil. Seu desenvolvimento no século XVI".
O texto de Paul Gaffarel constitui, de acordo com Wilson Martins, "a fonte evidente" da narrativa de Claude Lévi-Strauss a respeito da "aventura espiritual" da França Antártica em Tristes Trópicos, lembrando ainda Martins que tanto o autor oitocentista quanto o antropólogo são, "naturalmente, tributários" de Jean de Léry em sua Histoire d’un Voyage fait en la Terre de Brésil.