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SOUTHEY,
Robert. History of Brazil. London:
Printed
for Longman, Hurst, Rees and Orme.1810 e 1819.
Durante dezesseis anos, entre
1806 e 1822, o poeta inglês Robert Southey dedicou-se à elaboração
da sua History of Brasil. Aquela que, segundo o juízo de
seu próprio autor externado em carta a um amigo, deveria ser uma
obra destinada a jamais perecer, uma vez que representaria para brasileiros
de sucessivas gerações algo semelhante ao que o livro de
Heródoto representava para os europeus, fora redigida em momento
marcante para Southey em particular e para a grande a maioria de seus conterrâneos
de um modo geral. A crise provocada pela guerra e o bloqueio continental
atingia rudemente a produção manufatureira e fabril de centros
como Birmingham, Lancashire e Nottingham, desencadeando profunda tensão
social, quando foi publicado em 1810 o primeiro dos três compactos
volumes de uma obra que fazia parte de um projeto mais ambicioso, jamais
realizado, incluindo Portugal e demais partes do Império. O desemprego
e falências expressavam a depressão econômica que sucedia
o fim da guerra quando surgiu o segundo volume em 1817. Agitações
sociais se alastravam por vários pontos do Reino quando, em 1819,
o último volume foi publicado. A transição para a
Inglaterra vitoriana era anunciada tanto pela resistência dos artesãos
à proletarização e pela crescente organização
das massas trabalhadoras quanto pela luta dos setores empresariais contra
os privilégios aristocráticos, tendo como bandeira o liberalismo.
Sem nunca ter estado na colônia
americana de Portugal, Robert Southey teria se servido para a redação
de sua História do acervo de livros e manuscritos
sobre temas luso-brasileiros de seu tio materno que fora capelão
da comunidade anglicana do Porto e de Lisboa, além de pesquisas
que realizou pessoalmente durante uma curta estadia em Portugal. Úteis
também teriam sido as informações obtidas junto a
Henry Koster e John Luccock, que durante alguns anos viveram no Brasil,
assim como de alguns luso-brasileiros, como o padre João Ribeiro,
que participara da Revolução Pernambucana de 1817.
Apoiando-se na filosofia
política de Burke e Coleridge; inspirando-se, por vezes, em Herder
e nos pré-românticos ingleses; inclinando-se para o lado dos
reformadores humanitários; e partilhando com os liberais da escola
de Manchester a mesma fé na superioridade absoluta da civilização
inglesa; Robert Southey imprimiria à sua História
um perfil conservador. Ao poeta tornado historiador já aborreciam
as explosões revolucionárias, por entender que apenas serviam
para perturbar o curso espontâneo das mudanças necessárias.
Não obstante, Southey
não deixaria de criticar fortemente a experiência colonizadora
portuguesa na América. Embora admirasse a mestiçagem e o
que identificava como uma política de integração étnica
do Reino luso, censurava os vícios da sociedade escravocrata e o
poder dos potentados locais, assim como a ausência de laços
comunitários. Sua defesa do fortalecimento do Estado e da institucionalização
de laços sociais paternalistas fariam-no depositar esperanças
na vinda da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, por vislumbrar em tal
fato a possibilidade da fundação de um império cuja
missão consistiria no ajustamento do país aos benefícios
civilizadores do comércio inglês.
Valorizada positivamente
pelos construtores do Império do Brasil, defensores da Monarquia
centralizada e da manutenção da escravidão, a importância
do trabalho de Southey pode ser percebido no juízo emitido por Capistrano
de Abreu: "... em resumo, a História Geral de Varnhagen é
inferior à História do Brasil de Southey, como forma, como
concepção, como intuição, mas é inferior
somente a esta".
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